1993:
Recuperação Fulgurante
Os anos de 1992 e 1993 e mesmo início de 1994 são marcados por um grande pessimismo
económico. Toda a gente fala de crise, de recessão, de desemprego, de falências. Na
televisão, discute-se "os problemas da indústria", "os problemas da
agricultura", "a grave situação de...". As grandes empresas
multinacionais começam um doloroso downsizing, despedindo pessoal em massa, incluindo
quadros superiores. Longe de pensarem em investir, os empresários só pensam em cortar
custos, para poupar alguns magros tostões. O imobiliário, cujo ponto máximo tinha sido
atingido em 1989-90 entra em crise também. Os escritórios concluídos por empreendedores
ousados e imprudentes ficam anos sem se vender. Na Bolsa, os investidores aguardam uma
recuperação desde que as taxas de juro começaram a descer mas, em vez disso, sucedem-se
as falências.
No início de 1993, algumas pessoas desfazem-se dos últimos papéis, jurando nunca mais
voltar à Bolsa. Notei esse comportamento em vários amigos meus. Um deles confidenciou-me
"Agora vou vender tudo, está tudo a ir por água abaixo". As cotações
estavam baixas. O país estava mesmo em recessão técnica (o PIB desceu 1%). Mas os
sinais já presentes de bons dividend yields e taxas de juro a descer não passam
despercebidos aos mais calejados. Baseado no que eu já sabia de anos anteriores e dos
livros previ, correctamente, que ia haver uma recuperação, pois os últimos pessimistas
estavam numa "exaustão de vendas", a abandonar o mercado, e decidi ter, em cada
momento, 100% do capital investido nas acções que estavam a ter bons volumes e
cotações já ligeiramente ascendentes. Veja a seguinte lista, com os indicadores
fundamentais da maioria das blue-chips da época, calculados para a data de 30-04-1993.
Dos cinco principais bancos (BCP, BES, BPA, BTA e BPI), quatro estão com PERs entre os 5
e os 10! Os seus dividend yields alcançam, nalguns casos, 7% a 9%. Os PERs da Sonae e da
Marconi estavam em 12... Metade das acções estava abaixo do book value (veja o PBV),
mesmo neste conjunto seleccionado de empresas! Alguma coisa estava para acontecer...
De repente, tudo muda e a Bolsa começa a subir. Esta subida deve ser interpretada como
uma correcção técnica dos valores extremamente baixos atingidos antes, com os
correspondentes dividend yields e PER's atractivos.
Veja a potência do movimento no gráfico.
Entre Março e Outubro de 1993, as cotações galgam 40%. Há uma pequena correcção de
uns 5% em Novembro e Dezembro, para recomeçar tudo a trepar em Janeiro de 1994 (um dos
mais fortes efeitos Janeiros da década de 90, a par com 1997 e 1998). Veja como os
volumes dispararam entre Outubro de 1993 e Abril de 1994 (o gráfico não mostra o índice
principal do mercado, mas sim um índice interno a Finbolsa denominado "1992",
pelo que os volumes mostrados não correspondem ao total do mercado). Em Abril, a subida
acumulada atinge os 80% em relação aos mínimos de um ano atrás.
A partir daí a Bolsa corrige mais decididamente. Houve um dia de Abril de 1994 em que o
índice caiu 5%, uma coisa rara na época, que foi interpretada correctamente como um
forte sinal de venda (nos últimos anos, de 1998 a 2001, tais variações diárias
tornaram-se vulgares e, por isso, já não são indicação de coisa nenhuma).
Veja aqui as estrelas mais bem sucedidas nesta corrida, num gráfico de evolução
comparada. Sonae e Continente chegam a estar a subir 300% e 275% respectivamente, enquanto
a Mundial Confiança alcança 150%, a Marconi 75% e o BCP apenas 50%. Sonae e Continente
ganharam sobretudo na antecipação dos enormes crescimentos de vendas e lucros que
haveriam de conseguir, na área da distribuição, na década de 90, graças à política
de desenvolvimento baseada no consumo privado implementada.
(Anterior: 1991 e 1992 - Demolição Lenta da
Bolsa)
(Seguinte: Abril de 1994 a Dezembro de 1995 -
Resvalar Lento Exaspera)
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