1991 e 1992 - Demolição Lenta da Bolsa
A partir de Março, concluída a guerra, as pessoas voltam-se novamente para a economia e
não pressentem nada de bom. A descida recomeça e o ano de 1991 termina com perdas de 6%,
apesar da subida de 20% entre Janeiro e Março. Note o resvalar contínuo das cotações
entre Março e Janeiro de 1992. Note o pequeno mini-crash de Agosto, relacionado com a
tentativa de golpe de estado na Rússia, logo recuperado depois da derrota dos golpistas e
da ascensão ao poder de Ieltsin.
Entre 1990 e 1993, o processo de privatizações acelera o que traz novas
blue-chips para a Bolsa: Centralcer, BPA, BES, BCM, Tranquilidade, Mundial Confiança,
Império, CPP, BM (na altura UBP). Outras interessantes a entrar: Barbosa & Almeida,
Continente, Banif. Falências sucessivas afastam dezenas de pequenas empresas da Bolsa,
sobretudo têxteis, alimentares, construtoras e comerciais.
O ano de 1992 começa com grandes expectativas, pois as taxas de juro começam a descer,
embora timidamente. Tavares Moreira prevê a descida das taxas com meses de antecedência.
É a integração crescente com a Europa que força esse aproximar das taxas portuguesas
às europeias, num processo que só ficará concluído anos mais tarde, com a entrada no
Euro. Devido à queda das taxas, muitos investidores esperam uma subida em força da Bolsa
mas, em vez disso, só acontece uma fraca recuperação até Abril de 1992, destroçada
logo a seguir. Veja como as cotações caem, dramaticamente (a expressão é de Pedro
Caldeira, cuja corretora, ao fechar neste ano envolta num escândalo, lança ainda mais
desolação no mercado), uns 18% até Outubro, para estabilizarem depois.
As descidas do índice Global (programa Finbolsa) são de 22%, 8% e 17%, respectivamente
em 1990, 1991 e 1992. Se se tiver em conta que os detentores de obrigações ganharam,
durante esse período, uns 14% ao ano, compreende-se o ruinoso efeito que esses três anos
produziram nos que continuaram expostos ao mercado accionista.
Os anos de 1990, 1991 e 1992 trazem uma nova realidade à Bolsa, que poucos julgariam
possível nos gloriosos anos 80: a falência, uma após outra, de dezenas de empresas
cotadas. Alguns casos tornam-se famosos, como a Fnacinveste, a Amadeu Gaudêncio e a
Somec. Na maioria das vezes, as acções descem para 200 ou 100 escudos e ficam sem se
transaccionar durante anos. Esta é uma das causas da diminuição do número de empresas
cotadas no mercado oficial. Outra é o caso oposto: as boas empresas, as que sobreviveram
à crise, vão sendo alvo de sucessivas OPA's lançadas pelos accionistas maioritários,
que as retiram do mercado. Os pequenos investidores acabam por ter que vender, devido a
uma lei vergonhosa e anti-constitucional, que dá o direito a um maioritário com mais de
90% a adquirir compulsivamente as restantes acções, a um preço determinado por
avaliações muitas vezes por ele encomendadas.
Finalmente uma tendência contrária e muito positiva de aumento da
"biodiversidade" da Bolsa são as privatizações, que não cessam desde 1989.
Os principais bancos, seguradoras e outras grandes empresas voltam à Bolsa depois de
décadas de ausência.
(Anterior: 1990 e 1991 - A Crise do Golfo)
(Seguinte: 1993 - Recuperação Fulgurante)
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