1998 - Reaprendemos Sempre que Tudo o que Sobe Desce
1998 começa da melhor maneira com uma subida de mais de 20%, só em Janeiro. Alguns
eventos previstos, como a Expo 98, a inauguração da nova ponte sobre o Tejo e a entrada
no Euro, são antecipados com euforia pela Bolsa. Os fundos da UE não dão mostras de ir
acabar. A inflacção está muito baixa, bem como as taxas de juro. Os lucros das empresas
aumentaram uns 40% ou mais, de 1996 para 1997. A crise asiática não afecta Portugal
tanto como outros países. Todos os sinais são bons. Sobretudo a euforia e o efeito das
baixas taxas de juro levam a Bolsa a subir mais 67% até Abril de 1998.
Veja como as cotações sobem depressa de Janeiro a Abril. Em Abril, com as salas de
investidores muito cheias, os volumes historicamente muitíssimo grandes (200 milhões de
contos por dia e mais), os PERs já bastante elevados (embora muito menos do que em 1987)
e com uma primeira queda súbita de 6% num dia, tudo aconselhava a vender. Outra coisa que
me convenceu de que se estava à beira do crash foi a proximidade da Expo 98: o mercado
estava há muito a antecipar optimisticamente os bons efeitos desta exposição na
economia, e esta estava marcada para Junho... O crash, pela lógica habitual, deveria vir
antes de Junho, e as cotações estavam já caríssimas. Nessa altura alguns venderam tudo
e saltaram logo para o imobiliário. Este continuou a subir até 2000, enquanto o mercado
de acções se afundou, de facto, como os livros ensinam.
Note a queda persistente do mercado até Outubro de 1998. Aí a Bolsa atingiu mínimos,
depois de um Verão horrível, em que as quedas de 4 a 5% se sucediam dia após dia. Foi
um sell-off a nível mundial.
Porém, nos mínimos de Outubro, quem comprou fez bem, pois as acções não mais
atingiram esses valores (até Abril de 2001, pelo menos). Veja a recuperação de mais de
35% desde esse momento de pânico até ao fim do ano.
Em 1998, acentua-se a importância da Internet como auxiliar do investimento bolsista.
Surgem vários sites de informação financeira, surgem serviços de cotações por email,
muita gente passa a frequentar foruns online sobre Bolsa.
Admissões à cotação em 1998: Colep, Lisgráfica, Cofina, Finibanco, SAG. Note-se que
estas empresas não são como as blue-chips privatizadas admitidas em 1997, são empresas
mais pequenas. Todas caíram muitíssimo durante 1998 e 1999 e agora, em 2001, estão, na
sua maioria, a metade ou um terço do que atingiram nesse ano. Isto sugere que estas OPVs
foram uma nova versão, de menor ordem de grandeza, do fenómeno "Gato por
Lebre", tão gritante em 1987.
Resumindo, a alta de 1996 a 1998 apresentou os números seguintes: 35% em 1996, 70% em
1997 e 67% até Abril de 1998, num total de 283%.
Se considerarmos que este movimento começou com a subida de 1993, temos que acrescentar
as variações de +40% em 1993, de +14% em 1994 e de -9% em 1995, o que dá 457% em 5,5
anos. Uma média de 36.7% ao ano.
Na década de 80, temos as seguintes variações:
42% em 1983, 14% em 1984, 150% em 1985, 69% em 1986, 280% até Outubro de 1987. O total
destes anos é, portanto, 2500%. A média anual é de 100%. Veja como a alta dos anos 80
foi extraordinariamente superior à dos anos 90.
No entanto, temos que descontar a bolha especulativa, que foi muito maior em 1987 do que
em qualquer outro ano. Vamos considerar os valores de fins de 1988 para a alta dos anos 80
(já sofrendo os efeitos do crash). Obtemos uma alta total, de 1983 até fins de 1988, de
635%. Média anual de 39.4%.
Agora vamos descontar a bolha especulativa de 1998, considerando as cotações do fim de
1998, em vez das de Abril, como o fim do movimento de alta. Assim, a subida em 1998 fica
nuns meros 28%. A subida de 1993 até fins de 1998 fica em 327%, o que dá uma média de
27,4% ao ano.
Assim, descontando as bolhas especulativas, obtemos ainda uma alta maior na década de 80
do que na de 90. No entanto, consideremos que a performance das acções se deve comparar
com os rendimentos de aplicações alternativas sem risco, como obrigações. Como as
taxas de juro passivas, entre 1983 e 1987, chegaram a estar em 30% e terminaram em 15%,
com valor médio de uns 22%, as acções, durante a alta de 1983-88, apenas bateram os
juros fixos em 17%.
Entre 1993 e 1998, as taxas de juro passivas estiveram em torno dos 6%, pelo que as
acções renderam uns 19% acima dessas taxas.
Logo, a performance das acções na década de 90, por comparação às taxas de juro, e
descontando os excessos especulativos, acaba por ser semelhante ou até um pouco superior
ao conseguido na década de 80.
Claro que a comparação aqui feita ficaria algo alterada se considerássemos outros
momentos a limitar os dois períodos considerados. Mas os momentos escolhidos fazem
sentido, por serem, todos os quatro, momentos de relativa baixa e relativamente estáveis.
Outro aviso a fazer é que, se considerarmos épocas baixistas e de mercado lateral do
mercado (de 1989 a 1992 inclusive), e de 1999 a 2001, obteremos, é claro, uma
rentabilidade média das acções bem inferior aos 17-19% acima das taxas de juro que
encontrámos antes.
(Anterior: 1997 - Euforia na Bolsa da
Globalização)
(Seguinte: 1999 - O Euro! O Euro! E Depois, o
Deslizar...)
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