Significado e Interpretação dos Dados
Económico-Financeiros e de Balanço
Os dados económico-financeiros são os que constam na tabela da página anterior. O Número
de Acções assume uma grande importância, pois a partir dele se calculam lucros
por acção, avaliação da acção, etc. Tenha sempre presente quantas acções emitidas
existem de uma empresa, multiplique esse número pela cotação e terá a Capitalização
Bolsista ou Valor de Mercado da empresa. Numa primeira análise,
compare as capitalizações das empresas principais do mercado. Essas capitalizações
deverão, grosso modo, corresponder às importâncias relativas das empresas na
economia, ou seja, capitalizações grandes serão as das empresas com maiores quotas de
mercado, volumes de negócios, visibilidade, prestígio e influência política.
Os Resultados Líquidos ou Lucro Líquido são aquilo
que uma empresa ganha num ano, depois de descontar amortizações de equipamento, pagar
despesas (ordenados, juros de dívidas, etc) e pagar o imposto sobre os resultados. Quanto
maior o seu valor, mais se justificará uma capitalização alta da empresa. Os lucros
anuais servem, em parte, para pagar Dividendos aos accionistas, e em
parte para reinvestir. A parte que não é distribuída incrementa, em cada ano, a Situação
Líquida ou Capitais Próprios da empresa. Está a pensar
investir num negócio? Se sim, essa decisão só valerá a pena se ganhar nesse negócio
uma percentagem de lucro anual sobre os capitais investidos superior ao que obteria com
aplicações sem risco (obrigações do tesouro). Por isso, uma empresa deverá apresentar
um rácio entre lucros e situação líquida (chamado RCP - Rentabilidade dos
Capitais Próprios, ou ROE - Return on Equity) superior à taxa
de rendimento das obrigações do tesouro, para poder dizer que é realmente rentável.
Veja estes e muitos outros rácios na página dos Rácios
Económico-Financeiros ou nas Masterlists. Prefira, além disso, empresas em que a
situação líquida tenha aumentado (descontando aquilo que aumentou devido a aumentos de
capital com entrada de dinheiro), de ano para ano, de um montante pelo menos igual aos
lucros obtidos menos os dividendos pagos - só assim terá a certeza de que os lucros se
estão a reflectir plenamente na situação líquida, o que nem sempre acontece. Compare
os Dados Económico-Financeiros de vários anos.
Prefira empresas cujos lucros sejam crescentes ao longo dos anos, mesmo que esse
crescimento não seja muito rápido. Se esse crescimento de lucros tiver sido muito grande
recentemente, o mercado estará geralmente a antecipar uma continuação da subida por
mais anos e atribuirá à acção um PER mais elevado (25, 30 ou mais), o que não será
mau, desde que a empresa cumpra essas expectativas de crescimento. Se não cumprir, a
cotação cairá mesmo com a continuação do aumento de lucros.
Faça contas com o Resultado Líquido ou Lucro Corrigido, que é o lucro
corrigido dos efeitos dos Resultados Extraordinários. Os
extraordinários de um exercício aumentam a situação líquida, mas pouco dizem sobre a
capacidade futura de a empresa continuar a gerar receitas pelo que devem ser excluídos da
análise. Os Resultados Extraordinários são conseguidos por uma empresa quando esta
vende património (terrenos, acções de outras empresas, etc) a um valor maior do que
aquele por que estavam registados no seu balanço; perdas extraordinárias acontecem
quando se tem que pagar uma indemnização inesperada, por exemplo.
O rácio entre cotação e lucro por acção é o PER - Price to Earnings Ratio.
PERs altos, entre 20 e 50, em empresas que vão ter maior crescimento nos anos vindouros
são normais. Mas nesse caso tem mesmo que vir o tal crescimento, senão a cotação
cairá. Se o crescimento dos resultados esperado para uma empresa for mais baixo, pouco
acima da inflacção, então o PER da empresa deverá estar entre 10 e 20. Prefira, na sua
análise, o PERc ao PER. O PERc tem o mesmo conceito do PER mas tem em
conta os lucros corrigidos em vez dos não corrigidos.
Prefira empresas em que os Resultados Operacionais (RO) estão a aumentar
de ano para ano. Os RO são os resultados gerados pela actividade normal da empresa antes
de descontados os juros da dívida e antes de acrescentar extraordinários. No entanto,
não faça caso do rácio entre cotação e RO por acção, pois uma empresa pode aumentar
os seus RO se comprar outra empresa a crédito; a aquisição valerá a pena se o que
ganha em aumento de RO for mais do que os encargos da dívida contraída. Por exemplo, em
2001 a Portucel mais do que duplicou os seus RO instantaneamente ao adquirir a Soporcel;
isto não quer dizer que cada acção Portucel valha instantaneamente mais (na realidade a
cotação até caiu), porque a aquisição implica mais juros de dívida a pagar
anualmente.
Prefira empresas em que o Volume de Negócios ou Vendas e
Prestações de Serviços (ou Produto Bancário para os bancos)
esteja a aumentar de ano para ano. Se o aumento for muito grande no último ano, a
cotação da acção poderá estar com múltiplos altos (PER, etc), o que poderá envolver
um maior risco. Tome em atenção também a Margem Bruta e o rácio entre
os Resultados Operacionais e as Vendas (a ROV - Rentabilidade Operacional das
Vendas ou Margem Operacional). (mais uma vez, consulte as páginas de rácios e as Masterlists). É melhor que esta esteja a
aumentar de ano para ano, ainda que ligeiramente pois, se diminuir, isso significa que a
empresa está a enfrentar concorrência que a obriga a descer os preços de venda dos seus
produtos ou que as matérias primas ou de consumo utilizadas na produção subiram de
preço. Prefira que esta ROV seja entre 5% e 20%, pois menos indica perigo de a margem se
tornar negativa e mais poderá não ser sustentável.
Escolha Cash-Flows elevados em relação ao lucro. Se o lucro for muito
pequeno (ou, por outras palavras, a RCP for muito pequena), isso não será assim tão
grave se o Cash-Flow (CF) for muito alto. O CF é o fluxo de caixa, ou a
geração de dinheiro de que a empresa é capaz na sua actividade normal. Ele é igual ao
lucro mais as Amortizações e Provisões. Prefira CFs crescentes de ano
para ano, e um relativamente baixo PCF - Price to Cash-Flow Ratio, ou
rácio entre a cotação e o CF por acção. Um PCF entre 3 e 4 é muito bom, entre 4 e 7
ainda é bom.
Mais significativos ainda que o Cash-Flow são os Cash Earnings - iguais
ao Lucro Corrigido mais Amortizações mais Provisões. Os Cash Earnings, ao contrário do
Cash-Flow, não incluem os efeitos dos Resultados Extraordinários. Veja também o rácio PCE
- Price to Cash Earnings Ratio, ou rácio entre a cotação e os Cash Earnings
por acção. Prefira Cash Earnings que sobem de um ano para o outro e prefira PCEs baixos.
Prefira empresas com EBITDA - Earnings Before Interest, Tax, Depreciation, and
Amortization crescentes. O EBITDA, ou Cash-Flow Operacional, é
a soma dos RO com as Amortizações e as Provisões. Se o EBITDA crescer bastante no
futuro, ainda que os lucros actuais da empresa sejam pequenos comparados com ele (porque
os lucros já contam com as despesas da dívida, as amortizações e as provisões),
haverá grande potencial para aumentar os lucros e, logo, para a acção subir.
Prefira empresas em que os Custos com Pessoal não estejam a crescer
tanto ao ano como as Vendas nem como os RO. Isso será sinal de que a empresa está a
tender a produzir mais com menos mão-de-obra ou a aumentar a Produtividade,
o que é um factor chave de sucesso. Um outro número importante aqui é o Número
de Trabalhadores. É bom que este número não esteja a aumentar, ou então que
aumente mas acompanhado de grande aumento dos RO, caso contrário a produtividade poderá
estar em queda. Por outro lado, prefira empresas com muitos trabalhadores a empresas mais
pequenas, pois as primeiras terão mais poder negocial junto do Estado.
Prefira empresas com um Fundo de Maneio positivo e relativamente alto em
relação ao Activo. O Fundo de Maneio é o Activo Circulante menos o
Passivo Circulante e representa a capacidade momentânea de a empresa pagar as suas
dívidas de curto prazo. Já houve falências na nossa Bolsa devidas a dificuldades de
tesouraria (a Amadeu Gaudêncio, por exemplo). É mais fácil detectá-las em empresas com
baixo Fundo de Maneio. Tome em atenção o rácio entre Situação Líquida e Activo,
também chamado Autonomia Financeira (AF): muito baixo significa que há
maior perigo de falência em geral. No entanto isto depende muito de sector para sector.
Por exemplo, os bancos têm tradicionalmente uma AF baixa por a maior parte do Activo
serem depósitos dos clientes.
Os Interesses Minoritários na Situação Líquida representam, num
balanço consolidado, a parte dos contributos para a Situação Líquida das
participações consolidadas pelo método integral que pertence aos sócios minoritários
dessas participações. Por exemplo, suponha que estamos a analisar a empresa A e esta
consolida a B integralmente. A Situação Líquida de B é integralmente consolidada em A,
ou seja, se ela é 100 Mc, ela incrementa a de A em 100 Mc também. Se a empresa A apenas
tiver 51% do capital de B, tem que avisar os leitores do balanço de que, dos 100 Mc que
consolidou vindos de B, 49% não são seus, são dos sócios minoritários de B. Logo os
Interesses Minoritários serão 49 Mc. O mesmo conceito se aplica aos Interesses
Minoritários no Lucro, mas dizendo respeito à parte nos lucros não detida.
Se estiver interessado, consulte a nossa Lista de Bibliografia
Relevante.
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