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O declínio económico e político do Ocidente foi previsto e explicado por historiadores franceses nos anos 60, como Braudel e Pierre Chaunu. A deslocação do "centro do mundo" da Europa para os EUA e dos EUA para o Extremo-Oriente eram apresentadas como fenómenos estruturais mais ou menos inevitáveis.
Estes historiadores não previram, porém, que a iniciativa desta transferência de poder partiria do próprio Ocidente, e nomeadamente da dinâmica do modelo capitalista num contexto de aceleração da globalização económica. Nesse ponto, Marx, um século antes, fora mais assertivo.
O Ocidente implode no capitalismo globalizado. Primeiro, são as fábricas das multinacionais ocidentais que se deslocam para o "Terceiro Mundo" à procura da mão de obra barata. Segundo, o desemprego industrial dispara no Ocidente e com ele o desemprego em muitas outras áreas. O Ocidente desindustrializa-se e, aos poucos, enquanto perde a guerra da produção a favor dos "BRIC", a sua riqueza passa a depender das matérias-primas, noutros tempos alegremente saqueadas ao Terceiro Mundo. Países como a Holanda, a Noruega ou a Austrália, vivem hoje à sombra dos seus recursos naturais, que são finitos, e na ilusão de que se trata de uma riqueza sólida, "natural" do "mundo industrializado" ou "Primeiro Mundo", quando na verdade os conceitos de Primeiro, Segundo e Terceiro Mundo estão moribundos. A África permanece a única exceção.
O desenvolvimento induzido pelo investimento das multinacionais ocidentais nos BRIC torna-se sustentado e reprodutivo, à medida que as sociedades dos "gigantes adormecidos" se tornam exigentes e emancipadas política e culturalmente e aceitam as regras da globalização. Então, vemo-los desenvolverem as suas próprias multinacionais, que vão concorrer com as ocidentais e ultrapassá-las. Nomes como Philips, Siemens e Cisco vão deixando de ser usados, a favor de Huawei, Samsung ou Embraer.
A Alemanha, dos poucos países ocidentais que continua a produzir em larga escala, alimenta a ilusão de que os seus Mercedes e Porsches e a sua indústria química serão os melhores do mundo para sempre. Os Estados Unidos não admitem que a sua dinâmica científica e académica venha a ser disputada, quando já o está a ser. Hollywood e a Disney julgam que continuarão a impor alegremente o american way of life nas mentes e nos corações das gerações "globalizadas", ignorando que a competição global se fará, também, no campo da produção simbólica e artística (filmes, séries, narrativas de todos os tipos, música e culturas juvenis).
Vamos pensar que a prazo as coisas tenderão para um equilíbrio, e não para a transformação do Ocidente num novo Terceiro Mundo. Mas, para já, o que vemos é o Ocidente a virar contra si próprio a pistola que ele próprio concebeu.
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